Juventude e Saúde...
Nosso país conta com uma maioria jovem em sua população, que trabalha, estuda, constitui família e que também adoece, ou carece de uma vida mais saudável por diferentes motivos.
Pesquisas indicam que o grande vilão da saúde já não é apenas o infeccioso, aquele transmitido por vírus, as chamadas epidemias ou pragas como eram conhecidas antes.
O vilão na saúde tem se mostrado, cada vez mais, como vindo da área social e comportamental, ou seja, o modo de vida na sociedade atual produz riscos à saúde das pessoas. Resta-nos evitá-los e reduzi-los, ou podemos sofrer as conseqüências destes riscos por falta de informação e principalmente pela falta de uma atitude que corresponde ao conhecimento dos riscos.
Podemos lembrar aqui de alguns dos maiores índices de adoecimento para juventude, todos eles relacionados ao comportamento de risco ou a vulnerabilidade social ( quando não se tem a chance de escolha, por falta de informação, baixa escolaridade).
Há o uso de cigarros relacionado a centenas de doenças circulatórias, pulmonares e crônicas, como o câncer. Além do alto índice de fumantes temos também muitos usuários freqüentes ou esporádicos de álcool, que fazem parte de muitos quadros de doenças relacionadas ao uso abusivo e são grandes causadores de brigas e acidentes de trânsito (outro fator de alto índice de morte ou hospitalização entre os jovens). A parcela mais vulnerável da população nas estatísticas de morte são os jovens até 25 anos do sexo masculino.
Outro fator preocupante na juventude está ligado à sexualidade, desde falta de cuidados contraceptivos até a falta de assistência pré natal, que levam a abortos ilegais ou a gestações problemáticas, além das doenças sexualmente transmissíveis. O uso de drogas ilegais também corresponde a altos índices de adoecimento, seja por indisposições físicas e mentais causadas pelo vício ou sofrendo violência por estar em conflito com os traficantes ou a polícia.
Uma questão que cabe aqui é a de discutir a importância da saúde no trabalho, pois além dos riscos que corremos por nossas escolhas diárias, temos também os riscos que estão ligados ao nosso ambiente de trabalho ou ao modo com que nosso corpo e mente tem de se manter enquanto estamos trabalhando.
Há pouco tempo verificou-se que para cada tipo de emprego existe um número de pessoas que adoece pelo mesmo motivo.
Alguns tipos de emprego chegaram a um nível de estresse físico e mental alarmante para a saúde, como é o caso dos empregos de call center e telemarketing, que recentemente tiveram que ser amparados por uma nova legislação ( a NR-17, Norma Regulamentadora) que limita a jornada de trabalho para no máximo seis horas diárias, além de criar diversas normas sobre horários de intervalo, repouso, citando regras de ergonomia, ventilação, iluminação e ruídos no ambiente de trabalho.
Foi verificado que quando esses fatores não são cumpridos, produzem alta incidência de adoecimento, seja pela exposição constante a um ambiente nada saudável ou por esforço repetitivo. Por outro lado, há grande dificuldade em atingir as metas e se manter competitivo, levando também ao estresse ou cansaço, que podem desencadear doenças mentais.
Temos aqui uma equação restritivs para os jovens, pois necessitam de emprego e estão numa fase da vida em que se tem mais energia e disposição para enfrentar desgastes e dificuldades. Quando se é jovem, a morte parece muito distante, os jovens buscam ser testados, muitas vezes até negam os perigos ao escolherem situações que os põem em risco, porém, os jovens também adoecem, e dependendo da intensidade do desgaste e do dano, sua saúde já não é mais a mesma.
Tratando-se de um desgaste produzido em larga escala, podemos perceber a importância de se buscar meios de preservar a integridade física e psíquica, seja no ambiente de trabalho, na vida familiar ou pessoal.
Sendo assim, a saúde da juventude diz respeito a cada pessoa, por estar ela mesma tendo que escolher quais riscos quer correr, quais ela pode evitar, e quais são aqueles que são produzidos pelo ambiente em que vivemos e trabalhamos e que devemos nos mobilizar para mudar.
A saúde dos jovens também é uma preocupação para a sociedade, que necessita de sua força de trabalho, de sua força de produção e consumo, e aos poucos novas leis são feitas para amparar esta questão, como é o caso da NR-17 ou também como é o caso da nova lei de trânsito que procura reduzir o número de acidentes ligados ao uso de álcool, punindo os motoristas flagrados em condição irregular.
Devemos nos preocupar ao fazer nossas escolhas, saber quais são aquelas que trazem maior dano para a pessoa, para a família e também para a sociedade. Ao olhar ao redor vemos outros que passam pelas mesmas decisões, e que também pensam em fazer algo a respeito, seja em sua vida individual, seja numa conversa em família ou reunindo-se com colegas de trabalho que queriam propor mudanças, fazer parcerias e discutir sobre questões comuns. O seu Sindicato é um espaço para abrir esse debate e buscar soluções coletivas e que podem, por exemplo, ser negociadas com os empregadores.
João Jorge (graduando em psicologia)